sexta-feira, 30 de março de 2012

Entrevista com Michelângelo Almeida


Buenas, gurizada!! Post novo, entrevista nova, e também uma "novidade" nova: como a galera tem gostado dos posts com convidados, afinal de contas o número de visitações diárias passou de umas 5 para mais ou menos 10 pessoas (hehe), a partir de hoje as sextas-feiras serão os dias das entrevistas.

Hoje, dando continuidade à minha investigação para descobrir se é a água ou a rapadura que faz com que tantos artistas talentosos surjam do Ceará, entrevisto Michelângelo Almeida, ilustrador, animador, character designer, entre outras tantas atividades. Mas bueno, agora chega de enrolação e vamos para a entrevista:



1 - Bueno, começando com a pergunta básica: quando você descobriu este gosto por desenhar e a partir de que momento você pensou "macho, acho que posso viver disso"?
MA: Cara, pra te falar a verdade, acho que você só percebe que "sabe" desenhar alguma coisa, quando uma roda de pessoas (seus colegas de escola geralmente) se forma ao redor de você, pra te admirar vendo você rabiscando... Pelo menos comigo foi assim, acho que toda criança nasce "querendo" desenhar, mas essa aptidão vai se perdendo quando ainda criança, as pessoas vão descobrindo outras formas de se expressar, dai uma certa vez, me falaram que eu podia ganhar uma grana com isso, mas nunca me disseram como, auheuaheaheua tive que descobrir sozinho como ganhar a vida dessa forma, mas basicamente comecei querendo ser desenhista de HQ. Certa vez um tio meu, me pagou por um desenho que ele queria colocar nas mochilas que ele fabricava, num bairro da periferia de Fortaleza, (pensando agora, acho que esse foi o meu primeiro freela, hhahahaha), dai com a graninha na mão indo pra casa bem feliz, passei em frente a uma banca de jornal vi a SPAWN#40 à venda, e decidi comprá-la, desde então começava minha paixão por quadrinhos e a vontade de "estudar" desenho. Nesse momento eu não sabia se ia viver de "Arte", mas quando eu vi o nome do "Greg Capullo" nos créditos como desenhista, me toquei que o caminho poderia ser por ali.





2 - No Ceará você teve a oportunidade de conhecer muitos artistas excelentes, tanto da ilustração quanto da escultura. Fale sobre este período e como eles influenciaram no seu desenvolvimento como ilustrador:
MA: Olha, falando em artistas no Ceará, se tem uma pessoa que possa responsabilizar pelo artista que eu sou hoje, esse alguém chama-se "ALEX OLIVER", ele foi o primeiro profissional que tive a oportunidade de conhecer, e ele me abriu a primeira porta tanto profissionalmente, quanto pra conhecer vários outros artistas talentosos que acompanho e admiro até hoje, como o Robberto Fernandez, Al Rio (descanse em paz Mestre), Diego Maia, Paulo Ítalo e outras grandes figuras que tive o prazer de conhecer. O início desse período foi muito precoce na minha vida, tinha só 14 anos quando um vizinho meu (Jander Rifane), disse que eu tinha que conhecer um amigo dele que mandava MUUUuuUUUUito BEM no desenho e que eu tinha que levar meus desenhos lá pra esse cara dar uma olhada, esse cara era o Alex Oliver... Quando entrei no estúdio dele, foi uma sensação que me lembro claramente até hoje, todas as paredes FORRADAS de desenhos e uma cabeça do PREDADOR esculpida em tamanho real bem do lado da prancheta de desenho, mermão aquilo pra mim foi um choque, mal conseguia acreditar que "aquilo" existia, esse foi o EXATO momento em que o "verme" do desenho entrou na minha alma e a corrói até hoje quando me deparo com trabalhos de outros artistas que me motivam a continuar estudando, esse também foi o dia que eu tive a CERTEZA que eu não queria fazer mais nada na minha vida a não ser desenhar, 2 anos depois ele me chamou pra trabalhar numa empresa de arquitetura, na qual ele estava empregado na época, lá conheci o Robberto (Fernandez), esse foi outra grande influência, porque além de ser um baita artista, esse cara me ensinou a criar e a viajar com os meus desenhos... Posso afirmar com muita convicção que se não tivesse convivido com pessoas tão talentosas ao meu redor, certamente teria me frustrado no meio do processo e estar nesse momento trabalhando com alguma outra coisa...



 







3 - Você apostou no seu trabalho e decidiu buscar novos mercados Brasil afora. O que o levou a tomar esta decisão e como você se preparou para esta jornada?
MA: Então, essa resposta acaba reforçando o que havia dito na pergunta anterior, se você está rodeado de gente que tem ambições parecidas, a motivação aumenta e o resto acontece. Depois de algum tempo trabalhando em Fortaleza, não mais trabalhando com arquitetura e querendo crescer financeiramente, conheci as limitações do lugar onde morava.
O Robberto certa vez me ligou (isso em 2006) dizendo que ele tinha recebido uma proposta de uma empresa de games la de Porto Alegre, a essa altura eu já estava com 21 anos, trabalhando de freela de illustração ja fazia uns dois anos, já sabia 3DMAX, Photoshop, Corel, e estava fazendo desenhos comissionados pros EUA à algum tempo, pois bem, eu desejei boa sorte pra ele e tava torcendo pra tudo dar certo. O Alex também já tinha se mandando do Ceará e tinha descolado um trampo pro Diego Maia lá em São Paulo, lógico que me passou pela cabeça que "mermão, se eu não me mexer, eu vou acabar aqui no Ceará, sozinho, e fazendo a mesma coisa ficando no mesmo degrau..." Mas... o Robberto, que também sabia que todos nós estavamos afim de buscar novos horizontes me falou o seguinte "Cara, vou lá ver qual é, fui chamado pra uma entrevista e se o negócio for bom, vou falar de você lá também". Quando ele retornou ele me falou só o seguinte: "Os caras querem ver o teu material".... Velho, entrei em PÂNICO, escaneei TODOS os desenhos que eu tinha, terminei TODOS os modelos que eu havia começado e comecei outros, praticamente não dormi uma semana toda, montei um site e mandei, pouco mais de um mês depois estava na SouthLogic Studios em Porto Alegre, do outro lado do Brasil, numa cultura TOTALMENTE diferente da minha, estranhando o clima (não sabia o que era frio até então) e descobrindo um outro mercado, o de games. Quando isso aconteceu, descobri que o "Brasil" era logo ali, e assim, trabalhei em Florianópolis, onde retornei à cerca de um ano e trabalhei em São Paulo durante quase 3 anos na Vetor Zero.








 4 - O Brasil é um país enorme. Como foi para você lidar com a distância da família e dos amigos, e quais foram as dificuldades que você teve no início em um novo lugar?
MA: Haaa poisé, quando você corta as raízes e muda de estado e de cultura, é sempre uma barreira a ser quebrada. A distância da família foi muito difícil, e eu tinha um círculo grande de amigos em Fortaleza, e os primeiros 6 meses são fundamentais pra adaptação em qualquer lugar. Quando você chega em um lugar novo, inevitavelmente você se pega fazendo comparações com sua cidade natal, e até cair a ficha leva-se tempo, e como acabei de mencionar, tinha o fator climático contando "contra", imagina só, eu acostumado aos 33ºC diários no Ceará, desembarcando em pleno mês de Maio, no Outono gaúcho, numa noite que fazia 14ºC, eu chegava a pôr a mão pra fora da janela e lembrando de sentir algo "parecido" quando eu tinha que descongelar o freezer na casa da minha mãe.. Uma coisa que me ajudou MUITO foi a convivência com o Robberto e o Paulo Italo nesse período, acabamos sendo contratados juntos e um sempre segurava a barra do outro, já que estávamos no mesmo barco, foi um período que aprendi bastante não só profissionalmente mas como ser humano também, convivência e saudade são dois excelentes professores!





 5 - Você já teve a oportunidade de trabalhar com sua arte em muita coisa, produzindo material tanto para o Brasil quanto para o exterior. Que tipo de material você já produziu e qual você mais gostava de fazer?
MA: Trabalhei com várias coisas que felizmente me acrescentaram muito como profissional. Fiz Quadrinhos, Pin-ups, Concept, Perspectiva de Arquitetura, Story-Board, Modelagem, até Professor de Desenho eu tive a oportunidade de ser. O que eu acabei gostando mais de fazer até hoje é uma coisa que eu evitei fazer até onde deu, que é story-board. Quando trabalhava com arquitetura tive que fazer vários pra descrever as atrações temáticas que eram desenvolvidas lá, mas eram feitas de uma maneira que não davam nenhum prazer e sempre o prazo e a indecisão dos responsáveis faziam com que meus desenhos saíssem bem ruins. Quando fui trabalhar na Vetor Zero, tive a oportunidade de conhecer EXCELENTES profissionais do ramo como Marcos Llussá (Bogus), Marcelo Souto, Francisco Sanches, André Leão, João Ruas... e ai sim eu APRENDI a fazer e a gostar de contar uma história com meus desenhos, e ficava muito feliz de ver os animatics que desenhávamos se tornarem filmes de animação de qualidade internacional. Hoje trabalho como Coordenador de Produção de uma empresa de jogos, é um trabalho bem diferente, mas também sinto MUITO prazer quando o trabalho de uma equipe converge pra um resultado comum e a qualidade agrada não só o nosso cliente bem como a equipe em si, é bem gratificante.



 
6 - O seu trabalho tem uma qualidade técnica e artística muito grande. Fale um pouco sobre o seu aprendizado e o que faz para continuar evoluindo:

MA: Obrigado, acho que isso é resultado de todas as experiências profissionais que tive, isso fez com que me adaptasse à vários estilos e buscasse técnicas que me permitissem concluir o trabalho, mas sempre compro livros e quadrinhos que me mostrem algo que tenha um diferencial de qualidade, ajuda a manter as ideias sempre frescas e motivado a alcançar a qualidade que você acaba de se deparar. Procuro sempre ler algo a respeito de técnicas de animação, desenho escultura, etc...  vejo e coleciono muita coisa sobre longas de animação, principalmente os livros "the art of ...". Lá tem TUDO que eu gosto de ver, HA!  e assistir bastante desenho animado, essa é a melhor parte de "estudar" hahahahaha!








7 - Além de desenhar, você também modela e anima. Como este contato com o 3D influencia no seu trabalho 2D?
 MA: É meio complicado, porque em quase 100% das vezes eu me pego pensando "Pow, não posso desenhar isso, por que não dá pra modelar!" e isso é um SACO, mas por outro lado, esse conhecimento do 3D fez com que meu desenho (isso é o que me falaram) se tornasse bem atrativo pra quem modela. Já pra animação o fato de saber desenhar me ajudou MUITO, o fato de conhecer poses, expressões faciais, gestos, me serviu de preparação pra absorver o que aprendi no curso de animação 3D que fiz a algum tempo atrás.






8 - Você é fã de animação, principalmente as feitas por estúdios como a Pixar e Dreamworks. Você pensa em trabalhar em um estúdio como estes fora do país? Qual seria o caminho para chegar a um estúdio deste porte?
MA: Se um dia tiver a oportunidade e se realmente valer a pena ($$), ora bolas, por que não!? Tenho um amigo que também é cearense (se você ainda não conheceu um, um dia vai conhecer, nós Cearense estamos em todo lugar :P)  e hoje trabalha na Blue Sky (Daniel Lima). Esse cara estava na Vetor e saiu pouco depois que eu entrei e era um cara FENOMENAL no que ele fazia, ele é Character Technical Director e vi alguns trabalhos do portfólio dele. O trabalho dele tem um "diferencial" que chamou a atenção do pessoal do Saldanha, resumindo, acho que não só eu mas todo mundo que almeja chegar num degrau alto como a Pixar, Blue Sky, Dreamworks tem que se DEDICAR e FOCAR pro seu trabalho chamar mais atenção dentre os milhares que devem chegar na porta desses caras.



9 - Mais uma de costume: cite 5 (e apenas 5) desenhistas que te fazem abrir a boca e gritar: OOOOH MYY GOOOOOOOOOODDD:
MA: Ok! Lá vão:
Nicolas Marlet: Fala sério, esse cara é character design na Dreamworks e fez os personagens do "Kung Fu Panda" e os de "Como treinar seu Dragão", nem preciso falar mais nada....
http://artofnicomarlet.tumblr.com/

Bobby Chiu: Tive a oportunidade de ir a uma palestra dele em 2010, esse cara é a prova de que é possível se chegar longe com muito profissionalismo e dedicação, um exemplo a ser seguido;
http://www.imaginismstudios.com/

Adam Hughes: Seu trabalho me faz suspirar até hoje, apesar de não trabalhar com pinups a muitos anos, sempre fico com um brilho nos olhos quando vejo material novo na sua galeria!
http://adamhughes.deviantart.com/gallery/

Glen Keane: Cada desenho desse Senhor é uma aula a ser seguida
http://theartofglenkeane.blogspot.com.br/

Paul Felix: Concept Artist na Disney Animation Studios, quando eu crescer eu quero ser ele :)
http://unofficialpaulfelix.blogspot.com.br/

 


10 - O dia-a-dia de quem trabalha com artes gráficas aqui no Brasil é bastante complicado para a maioria, ainda mais para quem está começando. Fale um pouco sobre as dificuldades e imprevistos que acontecem constantemente e as loucuras tem que ser feitas em alguns momentos para entregar os produto dentro do prazo:
MA: Meu amigo, se eu for contar cada doideira que eu passei desde 2001, quando eu comecei minha vida profissional, não iria caber nesse post, mas uma coisa é certa, o mercado no Brasil dificilmente vai mudar. Sempre os prazos vão ser apertados, geralmente a grana por trabalhos de arte não é o suficiente pra sanar nossa contas mensais com conforto e folga, SEMPRE vai haver mudanças e solicitações (nem sempre) sem sentido por parte dos diretores ou dos clientes, e certamente você vai virar alguma noite na sua vida, seja pra entregar um job, ou pra melhorar seu portfólio, se você quer ser artista e quer viver de arte encare isso como uma etapa a ser vivida durante a sua vida profissional, e trabalhe pra que isso não seja um fator "constante" durante a sua carreira. Conviver com bons profissionais tornam as madrugadas menos desagradáveis e em alguns casos até divertidas (geralmente as melhores piadas acontecem fora do horário do expediente), mas obviamente nunca saudáveis em excesso.

 






11 - Cada artista tem o próprio processo de trabalho. Como é o seu?
MA: Pesquisa é o fator chave. Antes de começar qualquer job, separo todas que preciso numa pastinha, nessa hora google e youtube são fundamentais, faço um sketch pequeno onde resolvo parte da ideia, escaneio e levo pro Photoshop. Lá finalizo de acordo com a proposta, ou dou um "trato" no lápis.. enfim finalizo o trabalho. Pode parecer meio estranho mas adoro trabalhar ouvindo notícias, quando não, ouço bastante Metallica mas na real sou bem eclético, ouço desde rap até chorinho, depende do dia, do meu humor e o job...
 




 


12 - Bueno, gostaria de agradecer pela entrevista, e pra finalizar, o que você gostaria de dizer para quem está estudando ou buscando uma oportunidade de trabalho na área?
MA:  Bom, eu é quem agradeço pela oportunidade de compartilhar com vocês essas histórias. É comum no começo quase sempre a gente investir muito tempo tentando se achar no mercado ou no meio dos vários caminhos que o nosso talento nos proporciona, mas se eu puder dar um conselho pra quem esta começando, esse conselho seria FOCO.
Se você quer ser animador, estude pra ser o CARLOS BAENA da animação, se você quer ser o o próximo ALEX OLIVER e ter todos os demônios do inferno modelados e salvos no seu HD, estude pra isso, se você quer trabalhar num Game AAA como modelador, concept artist, rigger, nem termine de ler esse post, VÁ ESTUDAR, eu procuro fazer sempre um desenho ou um estudo pra me manter atualizado no mercado, se tivesse mais tempo, estudaria mais, mas certamente quem já está no marcado a algum tempo, com certeza esta estudando pra se manter nele, e quem quer entrar tem que estudar, se dedicar e também fundamental, fazer uma boa rede de contatos, sempre deixar uma porta aberta ao sair (das empresas que trabalhar, não a porta de casa), e absorver o melhor de cada lugar ou profissional novo que conhecer.
E ai?! Já fez algum desenho hoje!?
 



Gurizada, é isto. Espero que tenham gostado da entrevista, e para quem quiser conferir mais do trabalho do Michelângelo, podem conferir nos links abaixo:
http://michelangelo.cghub.com
http://michelangeloalmeida.blogspot.com.br/

Se você tem sugestões, gostaria de saber um pouco mais sobre algum assunto ou quer me puxar as orelhas, deixe um comentário ou mande um e-mail para arteiros.sa@gmail.com
E agora vou ficando por aqui. Hasta luego, indiada!!

Ahh, só para constar, o número de visitações está bem maior que 10!! Após esta entrevista, aposto que chega a uns 17 ou 18!!

segunda-feira, 26 de março de 2012

Detalhando um pouco mais


Buenas, gurizada. Estou passando em muito da hora de dormir para começar uma nova semana de trabalho, mas é que me empolguei trabalhando um pouco mais nesta ilustração. Sim, está demorando pra caramba, mas como neste caso o cliente sou eu mesmo, e eu sou extremamente exigente comigo mesmo, mas bastante tolerante com o prazo, estou indo com calma, testando técnicas novas e me divertindo bastante.

Assisti hoje ao filme novo do Conan, e como não criei grandes espectativas sobre ele, até que gostei. As vestimentas estavam bem bacanas, achei colorido em demasia, mas os matte paintings dos cenários estavam bem legais. No geral foi divertido, uma aventura despretenciosa que dá pra encarar por 110 minutos. Se eles tivessem brincado com as cores como ocorreu em The Lord of the Rings, onde em certos momentos uma cor era predominante, teriam conseguido criar uma atmosfera melhor, mas mesmo assim está valendo. Da maneira que ficou, parecia mais um episódio com um orçamento maior daquelas velhas séries dos anos 90, Hércules, Xena, mas com mais sangue e mulheres nuas.

Mas voltando ao desenho, trabalhei mais nos acessórios, desta vez. Estava achando a arte muito pobre, mesmo gostando do resultado que estava tendo, sentia falta de algo. Busquei referências de velhas algemas medievais e tirei as anteriores completamente, estavam horríveis, cartunizadas demais e não condiziam em nada com o resto da arte. Também apliquei texturas nelas, para dar um ar de ferro com um pouco de ferrugem nelas e nas correntes, acrescentei o colar e também o cinturão, estes bem inspirados no filme e nos quadrinhos desenhados pelo Cary Nord. Aliás, para quem não conhece, o Conan desenhado por este artista é fantástico. Tem muito dinamismo nas cenas, um traço limpo com uma pintura animal. É uma excelente referência pra que curte trabalhar este tema.

Enfim, não tenho a menor ideia de quando termino esta ilustração, até porque tem muita coisa que quero fazer no personagem e ainda tenho que criar um cenário compatível, e confesso não ter a menor ideia do que colocar. Se alguém tiver alguma sugestão, por favor, deixe uma mensagenzinha aí.

Mas bueno, já passei em muito da minha hora. Hasta luego, indiada!!

sexta-feira, 23 de março de 2012

Vida de Freelancer - entrevista com Joelson de Souza

  Buenas, gurizada. Mais uma semana que chega ao fim e mais uma entrevista que vai pra web. Desta vez o convidado foi Joelson de Souza, desenhista de Curitiba que conheci quando trabalhei na Techfront e que tive o prazer de ver muito de sua evolução.

  Joelson trabalha como freelancer a alguns anos, trabalhando com ilustração, character design e histórias em quadrinhos, e para esta entrevista fiz algumas perguntas sobre o lado bom e ruim do dia-a-dia de quem trabalha por conta própria. Vamos falar sobre os caminhos para conseguir trabalhos, rede de contatos, estudo constante e algumas histórias engraçadas............. mas prometo citar o fato de ele estar sempre derrubando as coisas no caminho, como cadernos, livros, copos, cadeiras, mesas, xícaras de café...

  Pessoas, com vocês Joelson:
1 - Começando com uma pergunta básica: quando começou seu interesse pelo desenho e o
que te fez pensar em fazer disto sua profissão?


JS: Pois é, cara. Essa é pergunta é engraçada. O meu interesse mesmo começou lá pelos meus 9 anos, porque eu queria mesmo era chamar a atenção das meninas da minha sala. Eu lembro que tinha um guri na minha turma que desenhava muito bem para um moleque da idade dele, e um dia eu vi ele rodeado por uma turma, na maioria meninas, vendo ele desenhar. Aí, eu me aproximei e vi que ele desenhava um disco voador. Logo em seguida eu falei “Ah, mas isso eu também sei fazer!” Todo mundo olhou pra mim, e então eu fui desafiado a fazer um disco voador melhor do que o que ele tinha feito. Nunca havia desenhado um disco voador antes, mas parecia fácil pra mim desenhar um. Aceitei o desafio e me sentei numa carteira ao lado dele e comecei a desenhar um disco voador numa folha de caderno. Então eu comecei a pirar no disco voador, inventando traquinalhas, armas laser, enfim...Parecia mais a nave que aparece no filme Distrito 9. Eu e o outro moleque ficamos disputando quem fazia o melhor disco voador e quem ganhava mais atenção da turma e das meninas, é claro.

No final das contas, a turma havia curtido mais o meu desenho porque ele era mais elaborado. E, desde então naquele ano, eu sempre era disputado pelos colegas de turma para os trabalhos onde era preciso fazer desenhos. Consegui sim, uma atenção maior por parte das meninas, mas eu era muito tímido e não consegui sustentar a atenção delas por mim durante muito tempo. Apartir daí, eu vi que eu podia pôr numa folha de papel quase tudo aquilo que eu imaginava e eu podia fazer cópias quase indênticas de outros desenhos que eu via em gibis. Como tomei gosto pela coisa, nunca mais parei de desenhar conforme eu crescia, ao contrário do outro guri que não se dedicou mais e eventualmente acabou desistindo.


2 - O seu traço é bem estilizado, com características bem próprias e cartunescas. Você sempre buscou este tipo de resultado ou foi algo que surgiu com o tempo?

JS: Eu sempre curti desenho cartum, na verdade. Mas quando eu decidi me aperfeiçoar, eu estudava mais anatomia e fazia desenhos mais realistas, porque considerava importante. Como o acesso a livros de anatomia era praticamente impossível pra mim naquela época, eu copiava fotos de pessoas que eu via nas revistas (É, a Playboy também!)*. Mas tudo mudou quando eu conheci os desenhos do Bruce Timm (ô nomezinho difícil de pronunciar sem que soe como um palavrão). O estilo dele me cativou muito, e cativa até hoje, na verdade. Então, eu passei a copiar tudo o que eu via dele, porque eu queria desenhar daquele jeito. Queria ser tão bom quanto ele.
*Joelson, seu safadinho!!


3 - Como você conseguiu o primeiro trabalho com sua arte?

JS: Consegui o meu primeiro trabalho com meu professor de histórias em quadrinhos, e hoje amigo, José Aguiar. O José é um grande quadrinhista curitibano que já publicou diversos álbuns, tanto aqui como no exterior e é um forte nome do quadrinho nacional. Ele havia notado a minha habilidade e confiou a mim os primeiros serviços freelances da minha carreira. Mais tarde eu tive a honra de ser o seu assistente, fazendo pequenos serviços de limpeza dos desenhos dele, e tirinhas que ele publicava na Gazeta do Povo, e muitas vezes até fazendo alguns desenhos. Como eu tinha que fazer os desenhos no estilo de cartum dele, acabei sendo influenciado também. Mas isso não era problema pra mim, porque eu adorava os cartuns dele. Eram sempre muito expressivos e exagerados na medida certa, sem serem forçados. Foi ele também quem me apresentou o Photoshop e me ensinou a usar uma tablet.




4 - Quando trabalhamos juntos na Techfront, lembro de você enchendo cadernos com sketches
que retratavam pessoas que você via pelas ruas de Curitiba. Fale um pouco sobre esta fase dos seus estudos e como foi para você ter tantos ilustradores ao seu redor:

JS: Nessa época eu tinha a necessidade de soltar mais o meu traço, encontrar soluções gráficas mais rápido. E como as pessoas estão em constante movimento, esse era um excelente exercício. Então, na hora do almoço eu colocava o meu sketchbook debaixo do braço e ia numa praça que tinha lá perto. Eu me sentava num banco e observava as pessoas que passavam por lá. Tinha gente que me achava maluco, mas eu estava pouco me lixando pra elas.

Eu estava sob forte influência do Stephen Silver, que é um outro grande artista que eu admiro muito, e ele sempre falava sobre a importância de se praticar sempre e de carregar um sketchbook pra onde você for. Geralmente ele postava vídeos dele no Youtube, onde ele aproveitava o momento em que ele aguardava a limpeza do carro, ou um vôo no aeroporto, pra observar e desenhar as pessoas ao seu redor. Assim ele praticava sempre. Ele também fazia transmições semanais ao vivo do seu estúdio em Los Angeles, onde ele falava bastante sobre motivação, dava dicas de como seguir na carreira e coisas do tipo.

Uma outra dica que ele dava também era a que ele chamada de Memory Sketch, onde ele observava uma pessoa por breves segundos e depois tentava fazer um desenho de memória dessa pessoa. Tem até um blog onde alguns artistas fazem isso e postam os seus desenhos. Segue aí link.

O bacana de você trabalhar com outros ilustradores é a troca de experiências. Tem sempre alguém que sabe algo que tu não sabe e a gente aprende muito com isso, sem falar das parcerias e amizades que tu faz, porque são pessoas que praticamente tem os mesmos gostos que o teu, e tu pode conversar sobre tudo relacionado a arte. Melhorei muito as minhas habilidades com o Photoshop quando trabalhei lá, graças ao meus colegas de trabalho que não se importavam em me dar dicas e me ensinar novas técnicas.



5 - Você tomou a difícil decisão de apostar na sua carreira e viver de freelancer. Como foi este
início, a sua busca por colocação no mercado? Como você conseguiu os primeiros trabalhos e
quais foram suas dificuldades iniciais?

JS: Pois é, eu não comecei como freelancer porque eu queria, mas foi porque eu não encontrei uma empresa que me pagasse o suficiente para o meu sustento. Então, optei por trabalhar por conta própria. No começo foi muito difícil mesmo, porque eu estava muito inseguro se eu iria conseguir me manter, se eu iria conseguir trabalhos. Mas aí eu montei um portfólio e mandei e-mails pra diversos lugares. Também gritei pra todo mundo que eu conhecia que eu estava disponível como freelancer e então alguns trabalhos começaram a aparecer.



6 - Viver do próprio trabalho não é apenas desenhar e receber, existe toda a parte burocrática
de negociação, contratos e ainda passar notas fiscais e pagar inúmeros tributos ao governo.
Como é lidar com toda esta parte técnica de ser um profissional que trabalha por conta
própria?

JS: Complicada. Essa parte é chata, até hoje eu fico tenso quando eu preciso fazer uma proposta de
orçamento. Mas tem que ser feito, né? Não dá pra fugir.



7 - Muitas vezes, viver como freelancer é complicado por não haver uma renda fixa, podendo o
profissional em um mês ganhar o equivalente a meses de trabalho e em outros não conseguir sequer um contrato. Como você lidou com estas situações no início e como é hoje em dia?

JS: Bem, no início eu tive que cortar praticamente todos os meus gastos, então, não ia ao cinema, balada, não pedia pizzas e procurava gastar o mínimo possível e evitava fazer dívidas que era pra eu não ter algo a mais com que me preocupar. Hoje em dia eu consigo fazer essas coisas, graças a Deus, mas sempre fico de olho pra não exagerar e acabar ficando no vermelho.



8 - Recentemente você assistiu a um workshop com Stephen Silver, character design de séries como Kim Possible e Danny Phantom, que você vivia citando. Fale sobre a importância de eventos como este e como foi para você, como admirador do trabalho dele, conhecê-lo pessoalmente?


JS: HAHA! Eu acho que vocês me achavam um pé no saco, de tanto que eu falava sobre o Stephen Silver. Bem, que a busca por aperfeiçoamento é fundamental, isso todo mundo sabe, ou deveria saber! Ainda mais se tu trabalha por conta própria. Estar sempre em busca de aperfeiçoar o seu traço e participar de workshops e oficinas é um grande meio de o artista fazer isso. Não dá pra ficar parado no tempo.

Nesse workshop que ocorreu na Melies em São Paulo, eu tive a grande chance de conhecer Bobby Chiu e o Stephen Silver, que é um grande ídolo pra mim por conta da sua arte, da motivação e paixão que ele tem pelo que faz. Foi muito bacana e motivador conhecer o processo de criação dele e como ele consegue se manter criativo. No final do workshop, tive a oportunidade de conversar como Bobby Chiu e o Stephen e mostrar o meu portfólio pra eles. Os dois são gente finíssima e me deram dicas valiosíssimas pra melhorar as minhas ilustrações.

Outro ponto importante de tu participar de workshops e oficinas é o networking. Todos estão mais abertos e receptivos a um bate-papo e tu pode conhecer muita gente. Geralmente eu sou um pouco tímido, mas eu me forço a me aproximar e conhecer as pessoas.


9 - Em julho de 2011 rolou a edição de número 0 da Gibicon em Curitiba, onde você acabou conhecendo (e impressionando) o agenciador italiano Tommazzo d'Alessandro. Conte esta história:

JS: Pois é, um conhecido meu na época havia me ligado dizendo que esse agenciador estaria no evento pra avaliar portfólios. Como a avaliação era no dia seguinte, sábado, e esse meu conhecido havia me ligado na sexta a tarde, larguei tudo o que eu estava fazendo e corri pra imprimir algumas ilustrações que eu havia feito, mas não havia impresso nada ainda. Preparei meu portfólio, e no dia seguinte eu estava lá.

Sinceramente, eu não estava esperando pela reação que ele teve quando viu o meu trabalho. Ali mesmo ele me perguntou se eu teria interesse em assinar contrato com ele e me deu seu cartão de visitas, me pedindo pra eu mandar o meu portfólio por email. Após o contrato assinado ele me passou alguns testes, mas infelizmente não deu em nada ainda, já que a concorrência é muito forte, tanto aqui quanto lá fora.

10 - Uma pergunta de costume: todo desenhista admira o trabalho de vários artistas, mas existem aqueles especiais, que a gente vê e fica um tempão olhando o trabalho enquanto uma
bába tenta escapar pelo canto da boca. Cite APENAS 5 que fazem com que seu queixo caia, e não vale trapacear como o Paulo Ítalo fez na entrevista anterior:

JS: Então, alguns eu já havia citado antes, mas vou falar novamente:

 - Bruce Timm, cujos desenhos eu copiei a esmo e, mesmo eu não querendo mais, ele ainda continua me influenciando, assim como influenciou uma geração de ilustradores pelo mundo todo;

 - Stephen Silver, Character Designer responsável pelo visual da Kim Possible, entre outro;

 - Bill Pressing, que faz umas pinups lindas e eu fico com raiva só de olhar. Inclusive eu tenho vontade de aprender a pintar com aquarela por causa das pinups dele;

 - Ben Caldwell, um quadrinhista americano que é dono de um traço cartum espetacular, na minha opinião. Adoro como ele desenha as mulheres;

 - Miah Alcorn, dono de um traço cartum muito maneiro e carismático. Adoro os personagens que ele faz.

Na verdade, esses são apenas alguns de muitos. Gosto muito de ver o trabalho de outros artistas na web, mas esses são os que mais me agradam em particular. Deixo as ilustrações desses caras exibindo como slide no meu desktop. Pra quem usa o Windows 7, tu pode tu pode selecionar uma pasta com imagens e configurar pra que elas sejam exibidas no desktop uma por uma.



11 - Fale um pouco sobre o seu processo de trabalho, desde o momento em que você recebe o briefing, o desenvolvimento da ideia, a busca por referências e o que faz para se concentrar, já que por trabalhar em casa o profissional freelancer tem sérias tendências a perder o foco por causa das obrigações domésticas:

JS: Bem, não tem muito segredo. Geralmente o cliente me passa um briefing do que ele está precisando. Se o briefing está muito vago pra mim, eu faço muitas perguntas até eu ter bem claro o que ele quer. Peço também pra que ele me mostre referências do que ele tem em mente. Depois de tudo bem claro, eu faço os esboços e mando um preview, e o cliente vai me dizer o que deve ser alterado ou se estou no caminho certo. Depois da aprovação do preview, eu parto pra finalização digital, onde eu faço o traço em preto, jogo as cores e o que mais for preciso para deixar a ilustração do gosto do cliente.

Tento ao máximo não me distrair com outras coisas e procuro seguir um horário de trabalho, e pra me concentrar no que eu estou fazendo, sempre escuto músicas ou ouço alguns podcasts, o que ajuda aliviar aqueles dias de marasmo.



12 - Costumo ver você presente em fóruns e galerias virtuais como Deviantart e CG Hub, inclusive com seus trabalhos tendo destaque nas páginas iniciais constantemente. O quão importante é manter esta presença virtual e os contatos com ilustradores pela web? Isso abriu
portas para trabalhos no exterior?

JS: Então, eu vejo esses fóruns como vitrines, onde posso expor os meus trabalhos e até conseguir clientes através deles. Sempre tive uma recepção calorosa das pessoas que vêem os meus trabalhos no CGHub e no Deviant Art e até consegui alguns clientes através desse último. Acredito que todo artista deve utilizar ao máximo essas ferramentas para divulgar os seus trabalhos. É o que eu sempre recomendo quando algum aspirante a ilustrador me pergunta o que ele deve fazer. Eu sempre digo pra eles exporem os seus trabalhos na internet constantemente. Quem não é visto não é lembrado.

Felizmente, algumas portas tem se aberto pra mim e boas oportunidades estão aparecendo. E espero que seja assim sempre.


Bueno, meu caro Joelson, agradeço muito pelo tempo cedido, e pra fechar vou fazer algo sugerido pelo Paulo Ítalo após a última entrevista, e lhe pedir que fale algo para a galera, alguma mensagem ou mesmo uma história que tenha acontecido com você durante sua carreira que queira compartilhar com todos. Desde já agradeço e desejo muito sucesso ao amigo.


JS: Eu é quem devo agradecer o espaço, cara. Fico honrado em conceder essa entrevista e devo lhe parabenizar pela iniciativa, que dá a oportunidade de se conhecer muitos outros artistas feras que tem por aí. Estarei de olho sempre nas próximas entrevistas.

Pra finalizar, a mensagem que eu gostaria de passar pra quem estiver lendo essa entrevista é que tenha tesão pelo que tu faz. Isso é o que vai fazer tu continuar seguindo em frente, apesar dos pesares. E gostaria também de deixar duas frases que estão sempre martelando na minha cabeça:
 -“Be so good they can’t ignore you.”, que quer dizer “Seja tão bom que eles não possam te
ignorar”, dita pelo ator Steve Martin.
 - “It’s a funny thing; the more I practice, the luckier I get”, e quer dizer “É engraçado. Quanto mais pratico, mais sorte eu tenho!”. Dita por Arnold Palmer, um jogador de golfe americano. Deixo vocês com essas duas frases pra refletirem.

É issaê! Se quiserem ver os meus trabalhos, visitem o meu blog e curtam a minha Fan Page no Facebook! Um abraço galera e até a próxima!


Bueno, gurizada, espero que tenham gostado desta entrevista. Estarei falando constantemente com profissionais que estão no mercado nas diversas áreas de atuação de um desenhista para tirar as muitas dúvidas de quem está pensando em entrar no mercado, e já tem entrevista pras próximas semanas, galera.

Mas bueno, por hora é isto. Hasta luego, indiada!!

terça-feira, 20 de março de 2012

Não é mais um estudo de silhoueta...


Buenas, gurizada!! Cá estou novamente tentando manter os posts em um ritmo constante. Como diz o título, e como bem observado pelo meu amigo Igor Arantes (ou Barba Magnética), esta ilustração deixou de ser a tempos um estudo de silhouetas. Aliás, creio que desde o primeiro post desta ilustração o nome está errado, já que pouco postei da silhoueta inicial, apresentando sempre estudos de luz e sombra. Mas acreditem: ela começou com a propósta de ser apenas um estudo de silhouetas, mas acabei me empolgando.

Desta vez, ao invés de uma série de imagens com o progresso da ilustração (que confesso, tive preguiça de montar), liberei o arquivo PSD para download, com tudo que foi feito até o momento. Lá estão todas as layers utilizadas desde o sketch inicial, e até que não foram muitas, pois como pretendia exercitar o sombreamento na figura, a melhor maneira de treinar isto é fazendo tudo em uma layer só. Uma vez definida a parte do desenho, após ajustes de levels pra acertar os contrastes, parti para as experiências com cores, buscando novos meios de conseguir um resultado mais realista.

As layers estão em uma ordem que estou experimentando, testando suas várias combinações de mesclagem e não esqueçam que este trabalho ainda é Work in Progress, portanto ele poderá mudar completamente no futuro. Os nomes das layers estão em inglês apenas por costume.
Espero que tenham gostado e que o arquivo tenha ajudado. Dúvidas, sugestões, puxões de orelha e pitacos, por favor, deixe em um comentário.
Hasta luego, indiada!!

Download:
http://www.4shared.com/photo/6IXEaOhT/guildor_paint_web.html

Lembre-se: este arquivo está sendo liberado apenas para fins de aprendizado e não deve ser impresso ou reproduzido sem autorização

sábado, 17 de março de 2012

Entrevista com Paulo Ítalo


Buenas, gurizada. Estou começando hoje algo que a muito tempo estava com vontade de fazer aqui no blog: entrevistas com artistas atuantes nos mais diversos mercados, seja quadrinhos, animação, publicidade, games ou o que quer que seja.

A ideia principal destas matérias é apresentar as diversas áreas onde um desenhista pode atuar, buscando tirar algumas dúvidas de quem está buscando uma vaga no mercado de trabalho e para aqueles que desenham por diversão que estão pensando em transformar este hobby em profissão.

Para estreiar esta nova fase do Diário de um Desenhista em Evolução, lhes apresento meu amigo Paulo Ítalo. Ilustrador, animador, quadrinista, concept artist, modelador, jogador de video-game, piadista de plantão e wikipedia ambulante do mundo dos games. Ele é uma das pessoas que podemos chamar de artista generalista, pois trabalha no papel, no digital e também em 3D, mostrando um trabalho de enorme qualidade em todas as etapas.

Fiquem com um pouco da experiência dele em 12 perguntas que vão desde seu início no mercado até os lugares por onde seu trabalho já o levou Brasil afora:



1 - Como surgiu seu interesse por ilustração e games?

Paulo Ítalo: Bem... Eu desenho desde que me entendo por gente, então não sei bem quando começou esse interesse. Mas com certeza foi reforçado por um tio meu que me ensinou  o conceito da animação com aqueles desenhinhos no canto da folha, sabe? Depois de ver a mágica acontecendo na sua frente não tem mais volta.
Tenho interesse por games desde a época do Atari 2600. Eu via meus tios jogando totalmente compenetrados e ao mesmo tempo se divertindo... Talvez daí tenha vindo a forma como eu encaro os games... Eu não só mato o tempo com games, eu procuro tempo para me dedicar aos jogos. É também uma forma de retribuir os desenvolvedores que se dedicaram na produção desses jogos.


2 - Você buscou uma colocação no mercado com ilustração ou foi algo que surgiu por acaso? Conte um pouco sobre como você conseguiu seu primeiro emprego na área.

Paulo Ítalo: Meu primeiro emprego na área foi como animador num curta-metragem sobre telensino. Eu procurava algo que estivesse ao meu alcance, primeiro tentei quadrinhos, mas logo apareceu essa oficina de animação e foi daí que eu comecei a fazer contatos até conseguir o primeiro trabalho.


3 - Como você começou a trabalhar com games, especificamente?

Paulo Ítalo: Meu primeiro emprego na área de games foi na Southlogic Studios. Um pouquinho longe de casa, pois sou de Fortaleza-CE e a SLS ficava em Porto Alegre-RS. Devido à indicação do mestre Robberto Fernandez fiz a entrevista, e como gostaram do portfólio que mostrei na época, que tinha muito pouca coisa de game, fui contratado.




4 - Você já rodou por vários estados com seu trabalho. Em que lugares você trabalhou, e como foi para você, que vem de um lugar tão quente como o Ceará passar pelo frio do Rio Grande do Sul?

Paulo Ítalo: Pois é... Sai do Ceará direto para o Rio Grando do Sul, bem no meio do ano. Foi uma quebra brusca na minha realidade, me senti um astronauta explorando um planeta do qual só ouvira relatos vagos. Tudo mudou na minha vida nessa época desde as roupas que eu usava até o modo como eu me relacionava com as pessoas. Por sorte eu tinha dois amigos e conterrâneos ao meu lado, Robberto Fernandez e Michelângelo Almeida. Acho que servíamos de pontos de referências uns para os outros, pra gente não perder a sanidade, hehehe. Exagerei, mas acho que foi algo mais ou menos assim.
Depois disso fomos para Florianópolis-SC, onde trabalhamos na Hoplon. Daí o ambiente já não era mais tão alienígena. Além disso pude finalmente trazer para perto de mim a minha esposa Giselle, a âncora definitiva da manutenção da sanidade e ponto de referência nos momentos de perdição.
Então fui para São Paulo-SP para trabalhar no estúdio de produção da Ubisoft Brasil até seu fechamento. Uma experiência única.
E agora estou de volta a Florianópolis-SC e de volta à companhia dos meus conterrâneos supracitados, Robberto Fernandez e Michelângelo Almeida.


5 - Além de games, com o que mais você trabalhou com sua arte?

Paulo Ítalo: Animação para publicidade e curta-metragens para festivais.






6 - Você carrega uma bagagem enorme de conhecimentos em modelagem e animação. Quando você começou a estudar 3D e como foi sua adaptação a este universo?

Paulo Ítalo: Comecei em 2001 quando, a convite do amigo Neil Armstrong Rezende, é sério, esse é o nome dele... Não, não é o astronauta... Ele me convidou para me juntar a um grupo chamado Lunart. Até ai eu só havia mexido com animação tradicional, no lápis e papel, nesse grupo foi que comecei minha vida digital. Valeu, Neil!!!
A transição foi tranquila, pois eu tinha conhecimentos de desenho técnico que adquiri ao cursar Edificações na antiga Escola Técnica Federal do Ceará. Então eu já tinha o costume de trabalhar a minha visão espacial.


7 - Vamos falar agora um pouco sobre concept art. Seu traço é bastante variado, mas qual o tema que você mais gosta de trabalhar e como é basicamente seu processo de criação?

Paulo Ítalo: Acho que é a área na qual mais gosto de trabalhar. Nunca fui muito de copiar desenhos para estudar, sempre fui mais de criar mesmo. Não que eu ache copiar errado, acho até que eu desenharia melhor hoje se eu tivesse copiado mais antes.
Para criar eu costumo ver muita referência, todos os dias, tanto imagens de outros desenhistas quanto fotos do mundo real. Tenho várias pastas de imagens salvas da internet e quando preciso criar algo vou buscando primeiro da minha memória, e já vou rabiscando algumas coisas, pois acho que não vou esquecer das melhores referências, e depois revisito as pastas de imagens, e vejo que esqueci de coisas muito boas, e continuo fazendo outros rabiscos e procurando boas silhuetas.
Ah sim! Os temas preferidos: steampunk, fantasia medieval e ficção científica espacial.


8 - Todo artista sempre olha o trabalho de outros artistas em busca de inspiração e referências, mas sempre tem aqueles que nos deixam de boca aberta. Cite APENAS 5 que te fazem dizer o teu famoso comentário: SENSACIONAAAAAL!!

Paulo Ítalo: Vou deixar de fora os óbvios, tipo Moebius, Da Vinci, Michelângelo, Al Rio, Alex Oliver, Hayao Miyazaki...
Pois bem, ai vão eles:

Jake Parker - é o artista me mais me fascina atualmente. SENSACIONAL!! O detalhamento e a sensação táctil que ele passa nos seus desenhos é algo que eu quero para a minha arte também.

Joe Madureira - ele tem algo muito muito forte, mas muito mesmo, nos seus desenhos. Suas silhuetas são como um soco no olho, seus traços cortam a carne. Ler um quadrinho dele é masoquismo, ao terminar parece que você foi espancado, mas quer mais e mais! Por isso que eu desenho, pra reagir!! Esse cara não pode ficar impune!!! Hehehe.

Tony DiTerlizzi - esse eu conheço desde a época do AD&D, as aquarelas dele são fascinantes. Seu trabalho em Spiderwick é de fazer sonhar acordado.

Akihiko Yoshida - de Final Fantasy Tactics, me faz suspirar ao ver seus desenhos.

Pascal Blanché - é como se fosse um Moebius 3d, o cara é um monstro.


9 - Acho que você trapaceou na última pergunta, mas OK, vamos adiante. Que músicas costumam tocar nos seus fones quando está trabalhando?

Paulo Ítalo: Squirrel Nut Zipper, The Pixies, Amy Whinehouse, Adelle, U2, Coldplay, The Strokes, Beirut, Pomplamoose, etc.






10 - Vejo muitas pessoas reclamarem do mercado de arte, citando falta de oportunidades, salários baixos, prazos apertados, calote, e muitas vezes falando que se pudessem começar de novo, não trabalhariam neste ramo. Como você vê isso?

Paulo Ítalo: Realmente esse tipo de coisa acontece muito. Considero-me um sortudo. Mas também me considero um cara que tem aprendido a trilhar o próprio caminho. Se eu não estiver profissionalmente satisfeito por algum motivo vou preparar um bom portfólio para conseguir outro trabalho. Não faz sentido ficar só reclamando, tem que haver ação também.


11 - Você trocaria de área (hehe)?? Por quê??

Paulo Ítalo: Atualmente tenho dado prioridade a alguns aspectos pessoais da minha vida, então eu trocaria de área dentro de um certo limite.


12 - O que você teria a falar às pessoas que tem interesse por arte?

Paulo Ítalo: Bem... Se o interesse for por arte contemporânea e essas coisas de exposições eu diria: "boa sorte!" Ou talvez até: "não, obrigado." Dependendo da situação.

Mas se o interesse é por esse tipo de arte comercial que eu faço, que eu até considero mais design do que "arte", e se o interesse é de trabalhar com isso, eu diria: "arrochem esse nó!"
E o que eu quero dizer com isso é: desenvolvam suas habilidades até o ponto onde ninguém possa negar que o que vocês fazem é arte, estejam preparados para enfrentar uma área instável e sejam pessoas agradáveis, vocês vão se beneficiar disso.


Te agradeço muito desde já, meu velho!! Tu és um baaaaita, mermo!!

Paulo Ítalo: Eu q'agradeço, Bagé!! Tu és um baita!
Galera, é isto. Espero que tenham gostado desta primeira entrevista, em breve pretendo fazer outras. Para quem quiser acompanhar o trabalho do Paulo Ítalo mais de perto, confiram seu blog: pauloitalo.blogspot.com.br.
E pra finalizar, mais alguns dos trabalhos desta fera. Hasta luego, indiada!!